Coisa de Mãe

A difícil arte de dividir

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Fim de ano. Balanço. Olhei para o quarto de João Marcelo desolada. Baús cheios de brinquedos com os quais ele já nem brincava mais. Resultado de aniversários e mimos da avó, da madrinha, do tio, da tia… Eu e Marcelo não costumamos comprar brinquedos a torto e  à direita. Sempre fomos comedidos e tentamos evitar o acúmulo. Pedimos um certo comedimento aos familiares também. O pedido é atendido pela maioria deles, mas se existe uma pessoa que ignora completamente nossos apelos é a avó, minha mãe. Já desistimos de pedir. Temos nos resignado… Chamei João Marcelo para que ele, do alto dos seus três anos, ajudasse na escolha dos brinquedos que deveriam ser dados a outras crianças que não dispunham da mesma diversidade e quantidade de jogos e bichos de pelúcia e tudo o mais… A princípio, ele foi meigo: “Vou dar, mamãe”. De repente, quando começamos a separar os brinquedos que deveriam ser distribuídos, ele olhou para mim e disse: “Não quero dar não, mamãe…” E chorou copiosamente. Aquele apego, a princípio me assustou. Depois, lembrei-me de que ele só tem três anos, é filho único… Acho que esses dois fatos são suficientes para justificar o apego, embora saiba que precisamos investir um pouco mais naquela operação matemática básica e ainda assim complexa: Divisão. Tentei um pouco de senso de realidade: “Você tem três celulares (de brinquedo, claro, pessoal!). Fica com um e mais duas crianças vão ficar felizes, filho!” Ele respondeu: “Mas eu brinco com os três…” Depois de algumas tentativas, escolhi um celular para dar, negociando com ele para que ficasse com “apenas” dois (mês que vem, daremos mais um…). Foi a vez daqueles brinquedos de quando ele tinha um ano de idade… “Filho, você ganhou este carro quando completou um ano. Agora você já tem três anos…” O pirralha não se fez de rogado: “Mamãe, quero ter um ano de novo… Não quero ter três anos mais não…” Olhei para o menino espantada. Procurei o chão. Já estava sentada nele, graças a Deus! Pensei em mil coisas e saí com esta: “Está bem, filho, você fica com seus brinquedinhos de quando você tinha um ano e me dá todos os que você ganhou, agora que completou três. Já que você só quer ter um ano, não poderá brincar com eles. Então, podemos dá-los às crianças. Que tal?” Ele olhou para mim e disse com lágrimas que rolavam pelas bochechas muito fofas: “Não, mamãe, quero ter três aninhos mesmo… Tô triste!” E me abraçou. Terminamos de separar os brinquedos. Vamos entregá-los amanhã. Quem sabe meu filho não encontre um pouco de felicidade na felicidade das crianças que vão recebê-los? É meu último desejo para 2008.

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