Existem sentimentos que não se esgotam em si mesmos. Eles precisam de vazão. Ao longo do meu exercício da maternidade, descobri um que não cabe em si. O sentimento de orgulho por um filho. O meu, João Marcelo, enche-me de orgulho diariamente. Do alto dos seus 6 anos, ele me surpreende sempre com sua capacidade de se sensibilizar e de sensibilizar-se com os outros. Mas há algo que tem me surpreendido nele ultimamente. A sua capacidade de também se posicionar em relação às coisas dele, de buscar tomar rédea da sua própria vida. Ele vinha demonstrando uma certa insatisfação com as aulas de judô de um mês para cá. Sempre, no dia da atividade, perguntava se teria que ir para o judô. Tentava extrair dele se ele queria ou não ir, se estava incomodado com algo. João Marcelo saía pela tangente com respostas evasivas. Terminava indo e, durante o treino, parecia satisfeito, entrosado. Ontem, na hora do judô, a resistência voltou. Dessa vez, ele disse que estava desanimado com as aulas, que queria ficar indo de vez em quando. Depois, revelou que estava chateado porque não havia sido escalado pelo professor para uma luta de que outros colegas participariam. Combinamos de ir lá e conversar com o professor sobre o assunto. Ele perguntou se eu falaria. Respondi que não, que ele precisaria resolver o problema, tratando diretamente com o professor, mas que eu estaria do lado dele, dando aquele apoio. Quando chegamos ao judô, ele já havia mudado de opinião. Disse que estava com vergonha e que só falaria com o sensei** na outra semana. Tem certeza? Tenho. Ele fez a aula inteira. Ao final, qual não foi minha surpresa quando o professor falou alto:
“João Marcelo, você queria falar comigo?”
Lá foi meu filho de 6 anos falar sozinho sobre as suas insatisfações com as aulas que ele já frequenta há três anos. Depois, veio a mim e disse que tinha falado. Perguntei se ele permitiria que eu falasse com o sensei também. Eu queria registrar que João Marcelo vinha reclamando há alguns dias e que não era algo pontual. Sinal verde. Pedi, então, que o professor realmente considerasse as queixas dele. Ele foi gentil, chamou João Marcelo na minha frente, disse que eles iriam ficar um pouco mais próximos e que ele queria ouvir do que meu filhote não estava gostando. Disse que não queria perdê-lo, que gostaria que ele continuasse no judô. João Marcelo saiu mais aliviado. Eu saí mais orgulhosa. Orgulhosa por meu filho estar resolvendo suas questões da maneira dele, na base do diálogo, falando de sentimentos que lhe são caros. Orgulhosa por ele ter superado seus medos ou sua vergonha, como ele próprio definiu, e ter falado com essa figura revestida de autoridade frente a frente, olho no olho. Orgulhosa por ele já ser tão grande…
P.S. Filho, não sei qual é a idade que você tem hoje, quando está lendo esse post, mas gostaria que soubesse que, desde sempre, você foi grande. Aquela tarde foi a do seu mais belo ippon, resultado de um movimento perfeito diante da vida.
* Ponto completo. É o nocaute do judô.
** Professor.