Hoje é 28 de setembro. Estou a um dia dos meus 40 anos. Alguns dizem que é um aniversário como outro qualquer. Para mim, não é. Saio dos 30 – uma boa década, como Balzac contou em “Mulher de trinta anos”. Sinto umas mudanças no corpo, acho que estou meio cansada também. Cansada de um pouco de tudo. Da sociedade hipócrita, da humanidade desumana, das dores que a vida me fez sentir… Cansada de não acreditar muito mais no ser humano… Mas, esta carta, meus filhos, que vocês vão ler um dia, não é para deixar qualquer desencanto registrado. É apenas para dizer que, quando faço um balanço dos meus “últimos” 40 anos, vocês aparecem como meu melhores feitos. As duas obras que eu deixo como legado. Para uma sociedade árida, deixo duas crianças cheias de amor. Espero que vocês cresçam assim. Amorosas. Para uma sociedade hipócrita, eu deixo duas crianças puras. Espero que vocês cresçam assim. Puras, mas sem muita ingenuidade (quero que vocês sobrevivam). Para uma sociedade infeliz, eu deixo duas crianças muito felizes. Espero que vocês cresçam assim. Contagiem a todos com alegria. Para uma sociedade descrente, eu deixo duas crianças cheias de fé. Tornem-se em adultos cheios de fé. Em vocês e nos outros (ultimamente, eu só tenho fé em vocês, mas queria muito que vocês fizessem diferente…). No balanço dos meus 40 anos, descobri que faço muito todos os dias. Deixo um legado razoável pra essa sociedade hostil e desigual. Dois projetos de cidadãos. Que vocês possam ajudar na transformação dessa sociedade… Será o meu pedido, antes de apagar as velinhas amanhã…
Bjs.
Mamãe